quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Artigo Publicado nos Anais do IX Congresso Internacional de Tecnologia na Educação




Encaminhei o artigo abaixo para apresentação no Congresso Internacional de Tecnologia na Educação, que foi aprovado e editado nos Anais do Congresso. Para saber um poço mais sobre o evento acesse: http://www.pe.senac.br/ascom/congresso/index.asp ou http://tecnaeducacao2011.blogspot.com/

APLICAÇÕES DA METODOLOGIA DA PROBLEMATIZAÇÃO COM O ARCO DE MAGUEREZ NA APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Resumo
No decorrer de anos, a visão cartesiana levou os alunos a estudarem baseados em escutar, ler, decorar e repetir. Na atualidade, porém, os profissionais buscam superar a divisão e a reprodução do conhecimento, levando o aluno a envolver-se no processo educativo. Os cursos de educação profissional estão pautados em sua grande parte por questões práticas já que, além da capacidade profissional, os profissionais necessitam trabalhar também barreiras sociais, econômicos e culturais no mercado de trabalho. Para transformar o aprendizado desses profissionais, propõe-se a metodologia da problematização como uma possível solução para esta necessidade, onde esta se baseia fundamentalmente na complexidade, para propiciar a reflexão e análise crítica do processo de ensino e aprendizagem nos cursos de educação profissional.
A metodologia da Problematização parte de uma critica do ensino tradicional e propõem um ensino diferenciado, cuja problematização da realidade e a busca de soluções, possibilitam o desenvolvimento do raciocínio crítico do aluno. A problematização é voltada para a transformação e conscientização dos direitos e deveres do cidadão.
Palavras-chave: Metodologia da Problematização; Arco de Maguerez, aprendizagem significativa

Introdução
Esta pesquisa tem como objetivo geral verificar qual a contribuição da metodologia da
problematização para alunos da educação profissional. Trata-se de reflexão teórica com base em pesquisa bibliográfica.
A Metodologia da Problematização como metodologia de ensino, de estudo e de trabalho, deve ser utilizada sempre que seja oportuno, nas situações em que os temas estejam relacionados com a vida em sociedade. A problematização é a metodologia necessária para a construção do conhecimento e é integrante da visão holística, tem abordagem progressista e integra o ensino com pesquisa. E para não cair na visão fragmentada do paradigma newtoniano-cartesiano deve fazer parte dos novos paradigmas numa busca incessante e inovadora para solução dos problemas na educação e no ensino, identificando as contradições sociais, econômicas, éticas.
Trabalhar o educando com a pesquisa, com a construção do conhecimento, num contexto atualizado e fazer com que ele conheça a teoria, mas, também a realidade a ser trabalhada é a meta do professor na metodologia da problematização. O aluno e o professor constroem um novo saber sempre contraditório de processos sociais, históricos, culturais e psicológicos, porque a contradição é o fundamento da dialética e por isto não poderia deixar de ser também um fundamento da práxis trabalhar estes contraditórios.
Nesse estudo será analisada as contribuições que a Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez como prática pedagógica trazem para o desenvolvimento de competências na educação profissional.

Referencial Teórico

“Já dizia Paulo Freire (1983): “Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. Ensinar exige liberdade e autoridade”.
Em nossa prática educativa, a realidade apresenta-se tal qual foi determinada, colocando-nos em situações de dificuldades educacionais nas quais somos desafiados a superá-las. Ao refletirmos sobre esta realidade, podemos oscilar entre aceitá-la apenas ou transformá-la.”
(SANTOS; JUNIOR, 2011)

Bordenave e Pereira (2002) ressaltam a importância de ensinar o aluno a desenvolver competências, pautada em experiências vividas. Isso depende da metodologia de ensino-aprendizagem adotada pelos professores. Uma das possibilidades de mediar o ensino seria por meio de uma metodologia em que o aluno elabore o conhecimento através da resolução de problemas ou problematização.
Nessa perspectiva de educação voltada à resolução de problemas destaca-se a Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez, como proposta pedagógica. As contribuições dessa metodologia são de Charles Maguerez, que formulou o esquema pedagógico do arco, que parte de um problema da realidade para no final, voltar a essa mesma realidade, de forma intervencionista com a devida solução (BORDENAVE e PEREIRA, 2002). Essa metodologia constitui um dos caminhos “para se experimentar na prática vários princípios de uma Pedagogia Problematizadora, visando uma educação transformadora da sociedade”. Contrapondo, portanto, à concepção de educação bancária “para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos” (FREIRE, 2006, p.67).
Assim, a Metodologia da Problematização apresenta como princípio partir da realidade, utilizando o que já se sabe sobre ela como subsídio para encontrar novas relações e construir conhecimentos capazes de transformá-la; ter os alunos como protagonistas da aprendizagem; estimular a sua consciência crítica e, finalmente, desenvolver a capacidade de perguntar, consultar e avaliar.
De acordo com Bordenave e Pereira (2002), o desenvolvimento do Arco de Maguerez se faz por meio de cinco etapas, conforme o esquema a seguir:
 Observação da realidade (problematização): esta etapa permitirá aos alunos identificar diversas dificuldades que serão problematizadas. O aluno começa observando com o seu olhar a realidade concreta, ou seja, o local onde o tema de trabalho está ocorrendo na vida real. Este é participante ativo desse processo; por meio da sua visão verifica o que é insuficiente, inconsistente, inadequado, desprezível, insatisfatório, ineficaz, improdutivo, enfim, problemático. Considera-se que o aluno está problematizando a realidade. Ele pode questionar diante dos possíveis fatores associados ao problema: O que gerou o problema? E por quê?.
De acordo com Santos (2005), a importância de ensinar num contexto dialético é construir com o aluno um conjunto de relações e mediações que o leve para a realidade e possibilite alterar essa mesma realidade. Bordenave e Pereira (2002) asseguram que esse diálogo constante entre professor e aluno é ativado na busca da solução do problema, e a aprendizagem é concebida na resposta natural do aluno ao desafio da situação-problema.
Pontos-chave: neste momento os alunos refletirão a respeito das possíveis causas da existência do problema em estudo. Deverá refletir e elaborar pontos essenciais que serão estudados para a busca de solução. Podem ser listados tópicos a serem estudados e perguntas para serem respondidas.
Parte-se da reflexão sobre quais aspectos são essenciais para serem estudados e investigados sobre o problema para a busca de solução; podem-se eleger quantos pontos-chave se queira. Deve-se debruçar sobre as diferentes dimensões e analisar numa perspectiva econômica, política, social, administrativa e ética. O mais importante não é o produto e sim o processo. E este processo pedagógico deve ser mediado pelo professor com o objetivo de provocar, incentivar, fazer o aluno refletir para que ele mesmo tome as decisões. O aluno é levado a ser mais autônomo para interpretar, processar, utilizar informações necessárias ao desenvolvimento de sua comunidade.
Teorização: momento da investigação propriamente dita, onde os alunos buscam informações sobre o problema, dentro de cada ponto-chave já definido, é a investigação propriamente dita em que todos os fatos ocorridos e observados são registrados pelos próprios discentes, que se organizam para buscar as informações sobre o problema, isto é, podem fazer consultas em meios impressos e virtuais, observar o problema que está ocorrendo, aplicar questionários qualitativos ou quantitativos, assistir a palestras ou fazer entrevistas.
Hipóteses de Solução: Neste momento, através de todo o estudo realizado, os estudantes devem elaborar, de maneira crítica e criativa, suas possíveis soluções, é a fase em que o aluno se questiona sobre o que é preciso fazer para solucionar o problema. Ou seja, diante de todo o estudo feito, que alternativas de solução podem ser elaboradas para resolver o problema? Assim possibilitará aos alunos, que compreendam como o conhecimento científico é construído, relacionando os fenômenos observados e as teorias que os explicam.
Essa etapa é impreterível para o exercício do aluno se formar como cidadão, dentro de uma postura responsável, com capacidade de raciocinar diante dos valores morais e de discernir o que é melhor para si e para o outro, a fim de reger por leis próprias e de se autogovernar, é imprescindível que ele crie hipóteses de solução para os problemas da realidade.
Aplicação à realidade (prática): execução da ação e ultrapassa o exercício intelectual, na medida em que, decisões tomadas deverão ser executadas ou encaminhadas. Esta é a etapa da evidência e do compromisso do aluno com o seu meio, no qual ocorre a ação-reflexão-ação ou teoria-prática-teoria. É o exercício da práxis.
 A práxis é uma prática consciente, informada, refletida e intencionalmente transformadora. É a fusão da teoria que se limita à interpretação e agora fundamenta a prática social, que passa a ser o critério para a teoria e a prática se refazerem continuamente. Assim, podemos considerar que: “A práxis implica na ação e reflexão dos indivíduos sobre o mundo para transformá-lo” (FREIRE, 1983, p. 26).
Nesta fase, o aluno volta à realidade inicial, coloca em prática no meio sociocultural aquilo que foi observado, discutido, questionado, refletido e teorizado para aplicar a solução ao problema.
A pedagogia da problematização tem suas origens nos movimentos de educação popular que ocorreram no final dos anos 50 e início dos anos 60, quando estes movimentos foram interrompidos pelo golpe militar de 1964; teve seu desenvolvimento retomado no final dos anos 70 e início dos anos 80. Nesta pedagogia, a educação é uma atividade em que professores e alunos são mediatizados pela realidade que apreendem e da qual extraem o conteúdo da aprendizagem, atingem um nível de consciência dessa realidade, a fim de nela atuarem, possibilitando a transformação social.
Bordenave (1999) aponta as seguintes repercussões da pedagogia da problematização:
Em nível individual: (a) aluno constantemente ativo, observando, formulando perguntas, expressando percepções e opiniões; (b) aluno motivado pela percepção de problemas reais cuja a solução se converte em reforço; (c) aprendizagem ligada a aspectos significativos da realidade; (d) desenvolvimento das habilidades intelectuais de observação, análise, avaliação, compreensão, extrapolação etc.; (e) intercâmbio e cooperação com os demais membros do grupo; (f ) superação de conflitos como integrante natural da aprendizagem grupal; (g) status do professor não difere do status do aluno.
Em nível social: (a) população conhecedora de sua própria realidade e reação à valorização excessiva do forâneo (externo); (b) métodos e instituições originais, adequados à própria realidade; redução da necessidade de um líder pois líderes são emergenciais; (c) elevação do nível médio de desenvolvimento intelectual da população, graças a maior estimulação e desafio; (d) criação (ou adaptação) de tecnologia viável e culturalmente compatível; (e) resistência à dominação por classes e países.
Constata-se, então, que a Metodologia da Problematização é uma maneira de ensinar a partir de um problema detectado na realidade e seu principal objetivo é preparar o estudante para que ele possa atuar na sociedade e, na medida do possível, melhorá-la. Observa-se que a Metodologia da Problematização busca, concomitantemente, ensinar os conteúdos e formar cidadãos críticos e reflexivos, os quais sejam capazes de conviver em sociedade e cooperar constantemente para a sua melhoria.
A opção pela Metodologia da Problematização não requer grandes alterações materiais ou físicas na escola, mas sim, na postura do professor e dos alunos para o tratamento reflexivo e crítico dos temas e na flexibilidade de local de estudo e aprendizagem, já que a realidade social é o ponto de partida e de chegada dos estudos pelo grupo de alunos.
É possível entender que a Aprendizagem Baseada em Problemas lança mão do conhecimento já elaborado para aprender a pensar e raciocinar sobre ele e com ele formular soluções para os problemas de estudo. A Metodologia da Problematização, além disso, é um desafio para a construção de novos conhecimentos, pela aproximação da realidade em que o tema em estudo é vivido por diferentes atores sociais.
Há também uma grande diferença quanto ao uso dos resultados dos estudos. Na Aprendizagem Baseada em Problemas, os conhecimentos serão utilizados para resolver os problemas como exercício intelectual e nas práticas de laboratório, e/ou práticas vivenciadas.
A Aprendizagem Baseada em Problemas tem como inspiração os princípios da Escola Ativa, do Método Científico, de um Ensino Integrado e Integrador dos conteúdos, dos ciclos de estudo e das diferentes áreas envolvidas, em que os alunos aprendem a aprender e se preparam para resolver problemas relativos à sua futura profissão.
Levando-se em consideração que a dinâmica do mercado exige profissionais que se renovem constantemente, capacitados não apenas no saber fazer, mas com espírito empreendedor, preparados para a resolução de problemas emergenciais e aptos para a convivência em sociedade, e que a educação profissional tem como objetivo o desenvolvimento de competências. A formação assume como desígnio de capacitar indivíduos para que tenham condições de disponibilizar durante seu desempenho profissional os atributos adquiridos na vida social, escolar, pessoal e laboral, preparando-os para lidar com a incerteza, com a flexibilidade e a rapidez na resolução de problemas.
A promoção de competências contrapõe-se à transmissão de conhecimentos. Quanto mais didática e práticas pedagógicas desafiadoras, melhores serão os resultados e a motivação para aprender, o que expõe o professor a desafios, necessitando romper o conhecimento fragmentado e conduzindo para uma visão global e interdisciplinar dos processos de aprendizagem. Para desenvolver competências, se faz necessário ter um estreito vínculo com o conteúdo a ser trabalhado, bem como dominar o que vai ser explorado, atendendo ao objetivo que foi proposto para que trabalhe de fato as competências de seus alunos. Partindo desta premissa, é preciso repensar as práticas pedagógicas, pautadas em estratégias que estimulem a participação ativa dos alunos no desenvolvimento de suas competências, inovar a prática e o planejamento, com atividades desafiadoras, situações-problema, projetos centrados sempre na contextualização e na integração do sujeito com o assunto que está sendo explorado.
O modelo de competências exige a criação de condições para que os indivíduos articulem saberes para enfrentar os problemas e as situações inusitadas encontradas em seu trabalho, o que é possibilitado pela Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez. A educação passa, então, a atender às necessidades e exigências do mundo de trabalho como garantia de qualidade e competitividade no contexto de um mercado globalizado. Essa é uma tendência que desafia a renovação das estruturas e práticas pedagógicas, respondendo às necessidades de formação de profissionais, promovendo maior capacidade de flexibilização, versatilidade, tomada de decisões, sabendo trabalhar em equipe, lidando com situações rotineiras.

Considerações Finais
A Metodologia da Problematização permite romper laços com a “pedagogia da transmissão” que cede lugar à “pedagogia da construção” do conhecimento, tendo o aluno como agente de sua própria aprendizagem e o professor como orientador/facilitador/mediador.
É uma metodologia que valoriza conhecimentos prévios, que estimula a capacidade investigativa dos alunos e considera as experiências diárias dos alunos a partir de seu ambiente sócio-cultural.
Além de promover a valorização do saber do educando e instrumentalizando-o para a transformação de sua realidade e de si mesmo, possibilita efetivação do direito da clientela às informações de forma a estabelecer sua participação ativa nas ações profissionais, assim como para o desenvolvimento contínuo de habilidades humanas e técnicas no trabalhado, fazendo que este exerça um trabalho criativo. Estas características e conseqüências convergem para uma sociedade mais democrática em prol do desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos e coletividade.
Em síntese, a Metodologia da Problematização tem uma orientação geral como todo método, caminhando por etapas distintas e encadeadas a partir de um problema detectado na realidade. Constitui-se uma verdadeira metodologia, entendida como um conjunto de métodos, técnicas, procedimentos ou atividades intencionalmente selecionados e organizados em cada etapa, de acordo com a natureza do problema em estudo e as condições gerais dos participantes. Volta-se para a realização do propósito maior que é preparar o estudante/ser humano para tomar consciência de seu mundo e atuar intencionalmente para transformá-lo, sempre para melhor, para um mundo e uma sociedade que permitam uma vida mais digna para o próprio homem.
A educação profissional é pautada no ensino por competências. A lógica das competências supõe a adoção de uma pedagogia com características específicas. Como já foi citado, a concepção de competência envolve a realização de uma prática centrada no desempenho, entendido como a expressão concreta dos recursos que o sujeito aciona quando enfrenta determinadas situações de trabalho. É necessário, então, considerar as condições sob as quais esse desempenho se apresenta na realidade. Nesse sentido, as propostas de ensino devem favorecer mecanismos de simulação e o contato direto com as condições reais de trabalho. Na medida em que uma competência é um ponto de convergência de vários elementos que não são exclusivos a ela, a prática docente não pode restringir a aprendizagem, limitando-a a uma compreensão de conceitos, mas deve incentivar a aplicação dessas noções mais gerais em várias situações. Aa compreensão de que a competência a ser demonstrada vai além da mera execução de uma tarefa faz do trabalho docente uma prática orientada para o desenvolvimento da autonomia do aluno, para que ele possa fazer uso do que sabe, visando melhorar cada vez mais seu desempenho. Esses fatores são possibilitados por meio da Metodologia da Problematização com o Arco de Maguerez.
Com todo o processo, desde o observar atento da realidade e a discussão coletiva sobre os dados registrados, mas principalmente com a reflexão sobre as possíveis causas e determinantes do problema e depois com a elaboração de hipóteses de solução e a intervenção direta na realidade social, tem-se como objetivo a mobilização do potencial social, político e ético dos alunos, que estudam cientificamente para agir politicamente, como cidadãos e profissionais em formação, como agentes sociais que participam da construção da história de seu tempo, mesmo que em pequena dimensão.

Bibliografia
BERBEL, N.A.N. A. A Metodologia da Problematização e os Ensinamentos de Paulo Freire. Londrina: Ed. UEL, 1999.
BORDENAVE, J. E. D., 1999. Alguns fatores pedagógicos. In: Capacitação em Desenvolvimento de Recursos Humanos CADRHU ( J. P. Santana & J. L. Castro, org.), pp. 261-268, Natal:  Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde/Editora da UFRN.
BORDENAVE, J.D. e PEREIRA, A.M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2002.
CAMPANARIO, J. M. MOYA, A. Como ensinar Ciências? Principais tendências e propostas. Ensenãnza de las Ciências. 1999, 17(2), 179-192
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 43. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
GARCÍA GARCÍA, J. J. A Solução de Situações Problemas: uma estratégia didática para o ensino de química. Ensenãnza de las Ciências, 2000, 18(1), 113-129.
GASPARINI, J.L. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. Campinas-SP: Autores Associados, 2002.
SANTOS, C.S. Ensino de Ciências:abordagem Histórico-Crítica. Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2005.
SANTOS, Ivani Cristina Turini dos; JÚNIOR, Álvaro Lorencini. Metodologia da problematização: um novo desafio para a educação ambiental na escola. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/81-4.pdf. Acesso em 01/05/2011.
SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez Ed. Autores Associados, 1989.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma Reflexão Sobre a Educação Profissional

Torna-se necessário repensar os desafios da relação educação-trabalho diante das exigências impostas pelos contornos econômicos da globalização econômico-financeira. Deste modo, na nova ordem mundial, de grandes transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, a formação profissional é considerada um elemento estratégico para o desenvolvimento do país.
Assim sendo, a educação profissional com foco no mercado de trabalho e com curta duração se torna uma aliada às preocupações do governo em relação à geração de emprego e renda, no momento em estimula o desenvolvimento da produtividade em toda a economia brasileira.
Por outro lado, o nível de desemprego representa uma ameaça ao equilíbrio socioeconômico nos diversos estados do país. O mercado exige qualificação constante para as novas exigências da economia, ao mesmo tempo este mesmo mercado é altamente seletivo, pois busca profissionais capacitados para o desenvolvimento das suas funções de forma eficiente, porém para um bom preparo profissional é necessária uma educação básica de qualidade e que desenvolva noções de ética e cidadania nos indivíduos, consequentemente, para a educação profissional é imprescindível uma boa formação geral.
No que se refere ao currículo, a legislação educacional prevê a atenção aos seguintes elementos: Currículos baseados em competências requeridas para o exercício profissional; Articulação e complementaridade da educação profissional de nível técnico com o ensino médio; Oferta de cursos sintonizada com as demandas do mercado, dos cidadãos e da sociedade; Diversificação e expansão da oferta, tanto de cursos técnicos e tecnológicos quanto de cursos de nível básico, que atendam à qualificação, requalificação e atualização do trabalhador; Vínculo permanente com o mundo do trabalho e a prática social; Currículos flexíveis, em módulos, possibilitando itinerários diversificados, acesso e saídas intermediárias e atualização permanente; Ensino contextualizado, que supere a dicotomia entre teoria e prática; A prática profissional constitui e organiza o desenvolvimento curricular.
Os professores, para atuarem na educação profissional para o ensino técnico, devem ter formação de nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena em universidades e institutos superiores de educação. Para o nível tecnológico a exigência é especialização, mestrado ou doutorado.
Na corrida de obstáculos entre a oferta e demanda de e por trabalhadores mais qualificados, a educação profissional desempenha papel central, pois além de ser de prazo mais curto, maior facilidade de conciliar trabalho e estudo, ela se volta mais diretamente às reais necessidades dos diferentes negócios.
Antes se dizia que a educação profissional seria uma complementação da educação básica, na verdade ela não é só isso, abre um leque de oportunidades profissionais para o mercado de trabalho para estas pessoas que buscam a educação profissional.,
A competitividade acelerada estabelece a busca frenética de inovações e de aperfeiçoamento que surgem dos escritórios de planejamento e envolvem todo o chão da empresa, passando a requisitar sugestões e opiniões do trabalhador mais diretamente ligado à produção. Para um mercado consumidor mais limitado, a produção deve ser mais controlada, incorporada a partir da demanda e condicionada ao gosto do cliente. Produção sem estoques, eliminação do refugo e do retrabalho com qualidade controlada durante toda a produção são objetivos perseguidos pelo novo padrão produtivo.
A empresa do futuro, presente no imaginário das pessoas, parece que vai se constituindo por um aglomerado de máquinas inteligentes, em que a intervenção humana seria mínima, bastante ascética, capaz de interligar produção e mercado distribuidor de forma ágil e com um menor custo. Essa empresa, muito diferente daquela caricaturada por Charles Chaplin em “Tempos Modernos”, eliminaria o trabalhado repetitivo, desinteressante, braçal e recorreria significativamente para o intelecto e o envolvimento do trabalhador.
Entre, a realidade e o sonho, as pesquisas comprovam que a empresa do futuro está longe de ser um processo generalizado para todo o mundo produtivo e que, mesmo em países mais desenvolvidos, esse padrão produtivo, altamente tecnologizado convive e às vezes estimula, com processos menos inovadores de produção, muitas vezes dentro da mesma empresa.
Segundo Perrenoud (1997) a educação profissional deve formar para o processo produtivo, e cada curso está referido a uma área específica da atividade laboral, a um processo de produção. A análise deste processo é o primeiro passo para a definição de como deve ser a construção das condições de preparação para o exercício de atividades neste processo.
O que se pode observar é que o mercado dita as regras e compete ao sistema educacional se adequar e suscitar soluções que contemple as necessidades de todos.
Para inserir novos profissionais no mercado, não basta apenas ensinar a fazer uma atividade laboral, necessita-se de formação continuada, buscando incentivar o estudante a formação critica, desenvolvendo suas, competências, habilidades e atitudes, relacionando o aprendizado ao trabalho, que dele será requerido no mercado.
Mesmo que títulos e diplomas tragam importância para a inserção profissional inicial, esses não garantem a permanência no mercado de trabalho. Tal permanência passa a depender das competências adquiridas e constantemente atualizadas, que proporcionam ao trabalhador a empregabilidade. A aquisição e a renovação de competências podem ocorrer por meio da educação profissional continuada ou pela diversificação das experiências profissionais.
Assim sendo, as diretrizes recomendam que os currículos sejam modulares, permitindo aos trabalhadores a construção de seus próprios itinerários de formação, da mesma forma, como prevêem mecanismos de avaliação, que possam certificar competências adquiridas pela experiência profissional. Neste último aspecto há uma inovação proporcionada pela noção de competência: o reconhecimento do saber prático tácito do trabalhador.
A noção de competência é abordada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais sempre de forma relacionada à autonomia do trabalhador contemporâneo ante a instabilidade do mundo do trabalho e das mudanças nas relações de produção. O agir competente, deste modo, realiza-se pela “capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho” (Brasil. CNE/CEB. Resolução no 4/99, art. 6o).
Imprime-se a leitura de que a expressão:
- “a capacidade de” tem conotações de intencionalidade consciente determinada pelo exercício profissional - “mobilizar, articular e colocar em ação (...) ”referem-se às operações do pensamento que podem viabilizar essa intencionalidade.
- Os “valores” são elementos culturais e pessoais, associados ao saber-ser e saber conviver, fortemente valorizado nas relações atuais de trabalho.
- Os “conhecimentos” são constituídos pelos saberes teóricos científicos e práticos, tanto aqueles transmitidos pela escola quanto os adquiridos pela experiência.
- As habilidades são o resultado das aprendizagens consolidadas na forma de habitus, ou o saber-fazer, também mobilizados na construção das competências profissionais.
Como consta em Brasil. MEC. RCN, 2000 a competência caracteriza-se, então, pela condição de alocar esses saberes, como recursos ou insumos, por meio de esquemas mentais adaptados e flexíveis, tais como análises, sínteses, inferências, generalizações, analogias, associações, transferências, entre outros, em ações próprias de um contexto profissional específico, gerando desempenhos eficazes.
O pensamento piagetiano a respeito do desenvolvimento cognitivo perpassa por toda a proposta das competências presente nos documentos oficiais. Pela teoria de Piaget, a construção do conhecimento ocorre mediante ações físicas ou mentais sobre objetos, resultando na construção de esquemas ou estruturas mentais que se modificam e se tornam cada vez mais refinados por processos sucessivos de assimilação e acomodação, desencadeados por situações desequilibradoras.
As competências constituem-se na articulação e mobilização dos saberes por esses esquemas mentais, ao passo que as habilidades permitem que as competências sejam colocadas em ação.
Partindo deste ponto de vista, a finalidade da prática pedagógica seria proporcionar o exercício contínuo e contextualizado dos processos de mobilização, articulação e aplicação dos saberes, por meio dos esquemas mentais, o que leva as Diretrizes Curriculares Nacionais e os Referenciais Diretrizes Curriculares Nacionais a recomendarem que o currículo se organize por conjuntos integrados e articulados de situações-meio, pedagogicamente concebidos e organizados para promover aprendizagens profissionais significativas.
Os conteúdos disciplinares deixariam de ser fim em si mesmos para se constituírem em insumos para o desenvolvimento de competências. Esses conteúdos são denominados como bases tecnológicas, agregando conceitos, princípios e processos.
O trabalho educacional deve se deslocar “do ensinar para o aprender”. Para isso, a metodologia adquire centralidade no processo ensino-aprendizagem, posto que elas devem identificar-se com as ações ou o processo de trabalho do sujeito que aprende. As situações-meio que constituem o currículo deve incorporar problemas e projetos desafiadores, reais ou simulados, que desencadeiem ações resolutivas, identificados com as situações características da área profissional.

A FGV desenvolveu uma pesquisa sobre Educação Profissional chamada “A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho” (publicada em 26/05/2010). A conclusão é que ter formação profissional aumenta em 48% as chances de um indivíduo ingressar no mercado de trabalho. Para saber mais acesse o link: FGV/MEC

A Rede Globo, também vem realizando uma série de reportagens sobre Cursos Técnicos. Assista aos vídeos abaixo. (Fonte: Youtube).




Referenciais Bibliográficos

Perrenoud, Ph. (1999). Pedagogia Diferenciada. Das Intenções à Ação. Porto Alegre: Artmed Editora (trad. en portugais de Pédagogie différenciée : des intentions à l'action. Paris : ESF, 1997)
BRASIL. MEC. Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília: MEC, 2000.
DEFFUNE, Deisi; DEPRESBITERIS, Léa. Competências, habilidades e currículos da educação profissional: crônicas e reflexões. São Paulo: SENAC São Paulo, 2000.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.