segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Pontos de Reflexão - Pedagogia da Incerteza



Vivemos em um mundo pautado no paradigma cartesiano, e é impossível negar a forte influência deste, por mais que tentemos nos pronunciar em direção ao paradigma da complexidade.
Costuma-se, ainda, fragmentar a História, a Educação, como se isso fosse possível, negando a certeza de que vivemos em um processo e tudo está em articulação. Portanto é inaceitável fragmentarmos, que tal mudança social, se deu numa determinada data, sendo esta, processo, bem como fragmentar as áreas disciplinares, negando a interdisciplinaridade.
No interior de uma ciência baseada na perfeição do universo, na precisão das medidas e na certeza das previsões, apareceram os princípios da indeterminação da incerteza, da relatividade. Problemas que já não podiam mais ser resolvido pela especialidade de uma única ciência começaram a aparecer: um acidente ecológico remete para a biologia, a química, a física, a geografia, a política...
São questionáveis os docentes se acharem os detentores da verdade, e seus alunos serem considerados como se buscando na origem da palavra: “aluno” que representa, traduzida do latim onde “a” corresponde a “ausente ou sem” e “luno”, que deriva da palavra lumni, significa “luz”, portanto sendo considerado como indivíduos “sem luz” , como se ainda estivéssemos na Idade Média, tendo em vista que estamos em plena globalização, onde as informações atravessam com muita mais rapidez, principalmente após a interligação da informática com a telefonia. Os discentes muitas das vezes com muito mais disponibilidade temporal que os professores, acessam constantemente a Internet e conseqüentemente a várias informações, que os ajudam no processo de construção de um novo conhecimento. Faz-se necessário então, que estes conhecimentos que já vêm com os discentes, sejam valorizados, buscando-se mediar outras informações para que se ampliem os que eles já trazem consigo.
Japiassu (1983) diz:
“Creio ser profundamente lamentável o fato de existir, tanto na história da filosofia quanto na das ciências, uma série de portos seguros aos quais os muitos cientistas e filósofos se agarram, por vezes desesperadamente, acreditando neles encontrar a proteção e segurança contra as intempéries da crítica e as borrascas do questionamento. Ora, quem acredita em certas verdades científicas ou filosóficas como se elas fossem um porto seguro esconde, no fundo, um medo básico não superado e uma angústia não resolvida. Melhor ainda, faz delas um mito.”

Os educadores não podem se considerar como um “porto seguro”, mas como uma ponte entre ele e o educando, onde haja a troca.
Na era em que vivemos não se pode falar em verdades absolutas, pois o que num dado momento é “verdade”, porque se postula esta em senso comum, em outro é comprovado cientificamente outra “verdade” que põe abaixo a anterior. Reportando-nos para a antiguidade, quando não se aceitava como verdade, o Sol como sendo o centro do Universo, hoje, esta é uma “verdade”, que futuramente pode vir a ser questionada.
Atualmente fica claro que tudo são tão cíclico e mutável, que ao concluirmos um curso de nível Universitário, já estamos obsoletos, pois novas “verdades” e novos conhecimentos são gerados.
Levamos uma vida substancialmente incerta, na atualidade, onde cotidianamente nos deparamos com as adversidades. Existe um grande índice de estresse, depressão doenças psicossomáticas decorrentes desta. Isto acontece porque introjetamos o mito de que somos um “porto seguro” em nossas produções intelectuais e é muito doloroso quando descobrimos ou reconhecemos os limites de nosso pensamento.
Portanto, enquanto profissionais da educação, necessitamos tentar a promoção da resiliência, para que tenhamos flexibilidade para enfrentar estas adversidades, analogicamente falando, como se fôssemos uma árvore que se contorce com o vendaval, mas após a calmaria, tem a flexibilidade de reestruturar-se, sem que haja fissuras.
O professor resiliente é capaz de promover a resiliência em seus discentes, pois terá a sensibilidade de buscar descobrir e ressaltar, qual das Múltiplas Inteligências, referenciadas por Gardner, que esse aluno possui, fazendo-o sentir-se útil, utilizando desta habilidade para que seja criativo e feliz.
Também, dever-se-ia utilizar a Pedagogia da Presença, ou Pedagogia Afetiva, reportando-nos a Goleman, buscando trabalhar não somente os conhecimentos científicos, mas elevando e referenciando as Inteligências Emocionais, destes alunos, que por muitas vezes não possuem de fato alguma deficiência cognitiva, mas sim algum bloqueio emocional. Se simplesmente os excluirmos, considerando-os como incapazes, poderemos cometer o mesmo erro que os professores de Verdi, autor da Ópera “La Traviata”, as escolas de sua época, nunca o acolheram bem quando jovem, argumentando que lhe faltava mais capacidade ou inventividade. Ele teve sua matrícula recusada inclusive por um conservatório em Milão, bem como colecionou muitas outras rejeições. Ou como Einstein, que chegou até a ser expulso de escolas, por ser considerado como incompetente e anarquista; entre outros.
Segundo Edgar Morin (2000, p.32),
“Necessitamos civilizar nossas teorias, ou seja, desenvolver nova geração de teorias abertas, racionais, críticas reflexivas, autocríticas, aptas a se auto-reformar. (...)”.
(...) As possibilidades de erro e de ilusão são múltiplas e permanentes: aquelas oriundas do exterior cultural e social inibem a autonomia da mente e impedem a busca da verdade; aquelas vindas do interior, encerradas, às vezes, no seio de nossos melhores meios de conhecimento, fazem com que as mentes se equivoquem de si próprias e sobre si mesmas.”

Outro cuidado fundamental seria referente à representação social que fazemos de nossos discentes, pois ao se generalizar em senso comum, submetendo-os a parâmetros sociais, rotulando-os ou predestinando o seu futuro. Certos de que vivemos de incertezas, não podemos antecipar o seu curso vital, mas sim, esforçarmos no empreito de despertarmos o interesse, fomentando para que sejam criativos e atuantes socialmente.
“O dever principal da educação é de armar cada um para o combate vital para a lucidez”.(Morin, 2000, p.33).

Bibliografia
JAPIASSU, Hilton. A pedagogia da incerteza. In: A pedagogia da incerteza e outros estudos. Rio de Janeiro: Imago, 1983, cap.1, p. 11-38.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. UNESCO: Cortez, 2000, p. 19-61.

Fonte das Imagens: Imagens Google

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Como o Seu Filho Preenche o Seu Tempo?




Segundo Piaget, o desenvolvimento da criança acontece através do lúdico. Ela precisa brincar para crescer, precisa do jogo como forma de equilibração com o mundo.
Sua maneira de assimilar (transformar o meio para que este se adapte às suas necessidades) e acomodar (mudar a si mesmas para adaptar-se com o meio), deverão ser sempre através do jogo.
O brincar é sem dúvida um meio pelo qual, os seres humanos, bem como os animais, exploram uma variedade de experiências em diferentes situações, para diversos propósitos.
O brincar é recreação, pois ele recria continuamente a sociedade em que é executado.
É sabido que os programas de televisão, assim como os jogos eletrônicos, videogames ou jogos de computadores, podem exercer alguma influência sobre o comportamento apresentado por crianças e adolescentes.
Embora seja muito difícil afirmar que a programação de televisão ou os jogos eletro-eletrônicos possuam relações diretas no comportamento humano, o Professor de Ciências da Computação da Universidade de São Paulo, Valdemar Setzer, afirma que: "Em termos de comportamento, pode-se afirmar que os jogos eletrônicos têm como conseqüência a desumanização e a mecanização do ser humano. O jogador é reduzido às reações típicas de animais reagindo a um estímulo exterior”.  Conforme afirma o referido professor, as reações dos seres humanos ficam parecidas com a de animais, ficam puramente instintivas.
Pesquisas feitas nos Estados Unidos sobre as consequências da truculência na televisão chegaram a duas conclusões que a TV estimula comportamentos agressivos em crianças predispostas ou criadas em ambientes hostis. E que ela induz à imitação, influenciando a construção dos valores.
Existe um artigo de Renato Sabattini, onde o autor cita que:
“Em um estudo recente publicado nos EUA surgiu uma estatística inquietante: dos oito casos mais recentes de jovens que assassinaram colegas e professores em escolas dos EUA, sete dos criminosos tinham menos de 16 anos (dois deles tinham 12 e 13 anos de idade!) e todos gostavam de jogar videogames violentíssimos, como Mortal Kombat, Blood, Doom, Quake, Carmaggedon e outros. Um dos dois garotos americanos que mataram doze coleguinhas e um professor no colégio onde estudavam, na cidade de Littleton, Colorado, deixou uma evidência macabra dessa sua preferência: em seu computador pessoal os investigadores descobriram que ele tinha personalizado uma versão do jogo Doom para máximo efeito das violências e crueldades cometidas na telinha, em cenário semelhante ao que aconteceu depois, na escola. Era o massacre anunciado, mas que não foi percebido por ninguém, colegas, professores e pais”.
Parece não restar dúvidas que para algumas crianças o evento de permanecerem os dias todos assentados à frente da TV não pode ser produtivo. Não há como assegurar que qualquer manifestação de violência possa ser procedente, diretamente, de uma identificação com algum personagem de filmes ou até desenhos animados. No entanto, fica evidente a necessidade de um grande rigorismo ao se optar por qual programa deve ser autorizado para as crianças e em que horários. Pelo fato de os pais se ocuparem por mais tempo, profissionalmente, acabam não querendo negar aos filhos que se ocupem com que no momento lhes é mais atrativo, e, porque não dizer, que se ocupam destes como forma de suprir a ausência de seus progenitores.
Vale ressaltar o que diz Abigail Van Buren: “Se quer que um filho seu se dê bem,  gaste com ele o dobro do tempo e a metade do dinheiro...!”.
Faz-se necessário à conscientização das questões que envolvem a violência e suas formas de dispersão, esquadrinhando a moderação das decorrências danosas. O computador, a televisão e o videogame são recursos tecnológicos que a sociedade possui, de forma que suas implicações positivas ou negativas serão produto do modo que estes serão utilizados. Compete à sociedade saber aproveitar os recursos positivos destas tecnologias e, se possível, abreviar seus efeitos negativos.
Os adultos necessitam, possibilitar às crianças outras formas de diversão, numa direção oposta à televisão, aos jogos eletrônicos e aos computadores. O adulto precisa acompanhar o crescimento e o desenvolvimento da criança, servindo como sufrágio, como referência, apontando o que é adequado e o que é inconveniente, colocando os limites, que sabemos serem tão importantes para a estruturação do psiquismo. Convém, lembrar a importância das brincadeiras para as crianças, sugerindo que este pode ser um caminho bastante divertido e muito proveitoso. Segundo Moyles é pelo brincar que a criança traduz simbolicamente fantasias, desejos e experiências vividas. As maneiras de brincar, os modos de representar situações, as mudanças de um brinquedo para outro não são fruto do acaso. São efeitos de determinismo psíquico inconsciente e adquirem sentido se interpretados do modo como se faz com os sonhos.
Baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Ministério da Justiça, ao dar um prazo para que os jogos de computadores fossem classificados por faixa etária, buscou controlar a exposição de crianças e adolescentes à violência, encontrada em diversos jogos disponíveis no mercado. Na visão do Ministério, de pais, educadores e psicólogos, os jogos podem exercer uma influencia negativa na formação dos jovens. Segundo a psicóloga Ana Cristina Colin, os jogos eletrônicos se infiltram no subconsciente do jogador, sendo responsáveis por muitas atividades violentas e até de delinqüência. "Agressividade, egoísmo, dificuldade de socialização e de troca afetiva são as conseqüências do excesso de exposição à violência dos games", explica a psicóloga.
As crianças gostam de jogar, e podem esquecer do tempo e das obrigações, que incluem suas tarefas escolares, diante de uma tela onde comandam personagens com o toque dos dedos. Este é o ingrediente do fascínio que este tipo de diversão exerce: comandar destinos, exercer controle. O videogame é uma espécie de sucedâneo para o exercício do impulso de domínio, para prática do poder pessoal, a expressar-se em forma de violência. É claro que, ao treinar para vencer este desafio, certas habilidades são desenvolvidas, como a observação, a atenção, a memória, a coordenação motora fina e a estratégia. Por isso, do ponto de vista do desenvolvimento intelectual, não se pode dizer que videogames "não prestam pra nada”. Porém, existem mecanismos íntimos: a razão, o livre-arbítrio, a intuição, a sensibilidade, existem crenças e valores, no meio deste caminho, onde pais e educadores têm possibilidade de atuar de maneira positiva. Além do mais, a influência de um videogame só é implacável quando aqueles mecanismos não atuaram por quaisquer motivos, interiores ou exteriores, ou quando pais e responsáveis se omitem ou são ausentes. Os modelos para os filhos são os pais, e só quando não estão lá, ou quando não são modelos bons o bastante, serão substituídos por outros.
Os pais devem ficar atentos com certos “modismos”, como surge agora o Yu-Gi-Oh, cartas com desenhos, onde o vencedor é aquele que compra mais almas, ou seja, mais cartas. Sendo assim, as cartas orientam a duelar e matar o adversário, além de citar palavrões. Percebe-se que com isto os seguintes conceitos filosóficos deste jogo: a violência como forma de obtenção do poder; conceitos de reencarnação e poderes psíquicos, uso de objetos ocultistas, para obter poderes contra os adversários. Na maioria das vezes os pais nem se quer observam os conteúdos destes jogos, compram-nos simplesmente porque seus filhos os pedem, alegando que “todos os seus amiguinhos já o possuem”. 
Recentemente em um certo programa televisivo de auditório, aconteceu um debate com a presença de Alexandre Farias Torres, um teólogo, Fernando Tavares Lima, um psicólogo, Motaury Sioquete, um juiz da Vara de Infância e Juventude e por fim Luciano Santos, um organizador de eventos e torneios de card games, velho conhecido dos duelistas, neste debate o psicólogo disse que não se pode colocar a culpa dos atos dos filhos em um simples card game, mas em como ele é passado para as crianças, ou seja, em como os pais educam seus filhos para esse tipo de coisa, daí a importância da atenção destes.
A participação prolongada deste jogo pode levar a um envolvimento que induz à dependência psicológica, de tal forma que o jogo torna-se um ídolo na vida da criança.
É explicita a importância dos pais saberem a respeito da influência dos jogos e da diversão no processo de socialização das crianças e na formação dos conceitos e atitudes para a vida adulta.
A origem da agressividade está, geralmente, na sociedade e na família, mas a violência dos jogos e da TV pode servir para direcioná-la. A agressão das telas banaliza a violência: as pessoas acostumam-se com ela e passam a encará-la de uma maneira natural, tendo como conseqüência pessoas menos sensíveis a situações que deveriam causar constrangimento e indignação. Também os Videogames e TV levam a um comportamento passivo: o espectador somente recebe imagens prontas, em se tratando da televisão ou reage com comportamentos repetitivos através dos videogames, onde não precisa pensar. Jogar videogame leva à excitação e, como a pontuação vem através de reforço intermitente, leva ao vício, sendo assim, parar é muito difícil. Faz-se necessário, então, oferecer alternativas de divertimento; verificar o conteúdo de videogames e simplesmente não comprar os violentos, também é muito bom estabelecer limites sobre o tempo e sobre o que a criança deve ver na TV; os pais deveriam assistir alguns programas com as crianças e conversar com elas sobre o conteúdo.
Exercícios de domínio e habilidade também se encontram em outros jogos e atividades, que podem ser propostos alternativamente. Como plantar uma horta, montar um painel de recados para o quarto, modelar argila, pintar uma tela, aprender origami (antiga arte da dobradura em papel), brincar com lego (jogo de pequenos blocos de plástico coloridos que se encaixam) ou andar de bicicleta podem ser tão interessantes ou mais interessantes que destruir obstáculos e criaturas virtuais, se introduzidos da maneira correta, sem imposições ou pregações moralistas, mas com naturalidade, como algo que dá muito prazer e resultados.
Todo o brincar é estruturado pelos materiais e recursos disponíveis, a qualidade de qualquer brincar dependerá em parte da qualidade e talvez da qualidade e da variedade controladas do que é oferecido. Isso tem imensas conotações para os professores e outras pessoas envolvidas na educação, porque significa considerar em certa extensão e em certa profundidade exatamente o que, em qualquer momento, eles querem que as crianças adquiram em uma determinada situação lúdica. Segundo Setzer, os brinquedos ideais para as crianças seriam aqueles que dão incentivos a amplas atividades físicas ou imaginativas.
O brincar, como um processo e modo, proporciona uma ética da aprendizagem em que as necessidades básicas de aprendizagem das crianças podem ser satisfeitas. Essas necessidades incluem as oportunidades: de praticar, escolher, preservar, imitar, imaginar, dominar, adquirir competência e confiança; de adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos e entendimentos coerentes lógicos; de criar, observar, experimentar, movimentar-se, cooperar, sentir, pensar, memorizar e lembrar; de comunicar, questionar, interagir com os outros e ser parte de uma experiência social mais ampla em que a flexibilidade, a tolerância e a autodisciplina são vitais; de conhecer e valorizar a si mesmo e as próprias forças, e entender as limitações pessoais; e de ser ativo dentro de um ambiente seguro que encoraje e consolide o desenvolvimento de normas e valores sociais.   
BIBLIOGRAFIA

BENJAMIM, Walter. Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Sumus, 1984.
ENDERLE, Carmem. Psicologia do desenvolvimento: o processo evolutivo da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
KAMII, Constance. Jogos em Grupo na Educação Infantil: Implicações da Teoria de Jean Piaget. São Paulo: Trajetória Cultural, 1991.
KISHIMOTO, M. Tizuko. O brincar e suas teorias São Paulo: Pioneira, 1998.
__________. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Cortez. 1996.
___________. O jogo,  a criança e a educação. Petrópolis: Vozes, 1993.
MOYLES, Janet R. Só brincar? – O papel do brincar na educação infantil. São Paulo: Artmed, 2002.
www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/equi20000615_6.shtml
www.eps.ufsc.br/disc/tecmc/bahia/grupo1/site/debate.html 

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quinta-feira, 21 de março de 2013

Educar Com Afetividade Sabendo Dizer “Não”



A afetividade acompanha o ser humano desde a sua vida intra-uterina, até a sua morte, se manifestando como uma fonte geradora de potência e energia, ela seria o alicerce sobre a qual se constrói o conhecimento racional.
Segundo Rossini, as crianças que possuem uma boa relação afetiva são seguras, têm o interesse pelo mundo que as cerca, compreendem melhor a realidade e apresentam melhor desenvolvimento intelectual.
A aprendizagem deve se prazerosa e ligada à ação afetiva. Para Rossini: “a afetividade denomina a atividade pessoal na esfera instintiva, nas percepções, na memória, no pensamento, na vontade, nas ações, na sensibilidade corporal, ela é componente de equilíbrio e da harmonia da personalidade”.
Vivenciamos uma era de mudanças ocorrendo cada vez de forma mais precipitada, devido à velocidade com que as informações chegam até a gente. Portanto, o desafio para este século, seria acompanhar este desenvolvimento tecnológico sem olvidarmos de que enquanto profissionais da educação, trazemos em mãos, seres humanos em desenvolvimento, que carecem de uma educação mais humanística, voltada para o ser humano em suas características de um ser dotado de corpo, espírito, razão e sentimento.
Se o mundo quase se tornou mecanizado, e os seres humanos quase se tornaram insensíveis, o homem está despertando a tempo de perceber que a consistência humana é imbuída de sentimentos, e que precisamos estar atentos a eles, uma vez que todo o progresso tecnológico e científico do século não garantiu ao homem alcançar a felicidade, assim como todos os comprometidos com as causas educacionais, encontram-se em busca de estratégias que permitam resgatar a auto-estima e valorizar as capacidades individuais em prol de toda a coletividade.
Enquanto pais e educadores devemos oportunizar às nossas crianças a promoção de sua afetividade, qualidade esta que propicie que seu emocional floresça, e ampliar-se ganhando espaço, pois a carência de afetividade desvia a rejeição aos livros, à ausência de motivação para a aprendizagem e à insuficiência de crescimento.
Segundo Rossini, “O desenvolvimento da afetividade pressupõe em um trabalho baseado em três alicerces (ou pontos básicos): limites, mitos do cotidiano e ritmos.”.
A criança é um ser social e por isso sujeita a influência do meio em que vive. Portanto devemos estar sempre precavidos às características e aos episódios da nossa sociedade, pois quando recebemos os nossos discentes em nossa classe, ele traz as impressões que vivenciou ou não, bem organizadas ou não.
Especialistas da Psicologia da Educação enfatizam, que atualmente vivemos em uma sociedade sem emoção, apática, amargurada e angustiada e a causa deste episódio seria a insuficiência de limites e de frustrações.
Rossini diz que a geração da década de 50 e 60 foi bastante reprimida, a liberdade era reprimida ao autoritarismo manifesta, praticada diretamente por coação. Já na década de 70 é decretado um “não” ao autoritarismo e passa-se a permitir tudo, numa ânsia desesperada pela liberdade. Até o presente momento sofremos seqüelas que essa iniqüidade causou a sociedade. Segundo ela “criar um filho sem nunca dizer “não” significa comprometer seu equilíbrio futuro: será um ser humano com dificuldade de tomar conta do próprio destino.”.
Faz-se necessário, portanto, que se comece a estabelecer limites desde que a criança é pequena, embora se trate de uma tarefa difícil, ela é mais complexa na adolescência, pois o adolescente já tem a base da vida adulta formada.
Na atualidade uma das maiores razões para a falta de limites seria provocada pela ausência constante dos pais, devido ao cumprimento de jornadas de trabalho prolongadas. Com isto estes sentem-se culpados por esta lacuna provocada por esta ausência, e esta culpa leva-os a uma compreensão errônea e perigosa; a concessão exagerada.
Estes pais devem compreender que o importante não é o número de horas que passa com seus filhos, mas a qualidade destes momentos, propiciando atenção, afetividade, companheirismo, e nestes momentos é preciso trabalhar com a questão dos limites, sem medos ou culpas, mas com convicção, pois isto permitirá que elas alcancem um desenvolvimento saudável e equilibrado.
Rossini afirma que “no pensamento da criança, a falta de limites é codificada como ausência de afeto, de amor. Portanto vale a pena dizer a elas o que fazer e como fazer, mostrar os limites”.
Para aflorar e desenvolver a afetividade é preciso resgatar os mitos do cotidiano, ou seja, fazer um resgate das tradições, às vezes lendárias ou não que explicam ou ilustram os principais acontecimentos da vida. Estes mitos estão relacionados à postura dos pais, professores avós, a história, aos brinquedos e brincadeiras e a religião.[1][1]
Na natureza tudo é cíclico, rítmico, ou seja, as horas, dias, a terra e seus movimentos, os oceanos e os animais com seus impulsos instintivos. Tudo que tem vida possui ritmos cíclicos.
O ser humano como fazendo elemento desta natureza, também tem o seu ritmo, entretanto mais complexo que dos demais seres vivos. Ao ser gerado estabelece seu ritmo cardíaco, ao nascer, respiratório...
Os ritmos externos, ou seja, tudo que ocorrer a nossa volta é captado por nós, por exemplo, o nosso comportamento modifica se ajustando ao ambiente em que nos encontramos, operamos de uma maneira em uma festa, de outra em sala de aula...
Isto se dá pelo episódio dos ritmos externos induzirem no comportamento humano, sabendo-se que na natureza tudo é cíclico e rítmico, cada vez que este ritmo é fragmentado ocorre à insegurança, o desequilíbrio, o desconforto.
Ao se instituir uma rotina como ancoragem de horários, hábitos, práticas rotineiras, este ritmo diário é interiorizado pelas crianças com ritmo bem estabelecido. A criança adapta-se a eles e não gosta de vê-los desrespeitados.
Portanto, a escola e a família, além de constituir estes ritmos diários, precisar cumpri-los na íntegra, conscienciosos de que isto é benéfico para a criança. Com isto é proporcionado a esta criança, aconchego, equilíbrio, segurança, contribuindo assim, para o desenvolvimento saudável da afetividade.



BIBLIOGRAFIA
COSTA, Antonio Carlos Gomes da. Pedagogia da presença: da solidão ao encontro. 2ª ed. Belo Horizonte: Modus Faciendi, 2001.
ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia afetiva. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

Fonte das Imagens: Imagens Google


[1][1] No livro da Rossini, a autora elucida mitos que temos no nosso cotidiano, que são negativos para a formação de nossas crianças, e nem sempre nos damos conta disto, e ao fazer a leitura conseguimos nos encontrar na situação, portanto sugeriria a leitura desta obra.