Vivemos em um mundo pautado no paradigma cartesiano, e é impossível
negar a forte influência deste, por mais que tentemos nos pronunciar em direção
ao paradigma da complexidade.
Costuma-se, ainda, fragmentar a História, a Educação, como se isso fosse
possível, negando a certeza de que vivemos em um processo e tudo está em
articulação. Portanto é inaceitável fragmentarmos, que tal mudança social, se
deu numa determinada data, sendo esta, processo, bem como fragmentar as áreas
disciplinares, negando a interdisciplinaridade.
No interior de uma ciência baseada na perfeição do universo, na precisão
das medidas e na certeza das previsões, apareceram os princípios da
indeterminação da incerteza, da relatividade. Problemas que já não podiam mais
ser resolvido pela especialidade de uma única ciência começaram a aparecer: um
acidente ecológico remete para a biologia, a química, a física, a geografia, a política...
São questionáveis os docentes se acharem os detentores da verdade, e
seus alunos serem considerados como se buscando na origem da palavra: “aluno”
que representa, traduzida do latim onde “a” corresponde a “ausente ou sem” e
“luno”, que deriva da palavra lumni, significa “luz”, portanto sendo
considerado como indivíduos “sem luz” , como se ainda estivéssemos na Idade
Média, tendo em vista que estamos em plena globalização, onde as informações
atravessam com muita mais rapidez, principalmente após a interligação da
informática com a telefonia. Os discentes muitas das vezes com muito mais
disponibilidade temporal que os professores, acessam constantemente a Internet
e conseqüentemente a várias informações, que os ajudam no processo de
construção de um novo conhecimento. Faz-se necessário então, que estes
conhecimentos que já vêm com os discentes, sejam valorizados, buscando-se
mediar outras informações para que se ampliem os que eles já trazem consigo.
Japiassu (1983) diz:
“Creio ser profundamente lamentável o fato de existir, tanto na história
da filosofia quanto na das ciências, uma série de portos seguros aos quais os
muitos cientistas e filósofos se agarram, por vezes desesperadamente,
acreditando neles encontrar a proteção e segurança contra as intempéries da
crítica e as borrascas do questionamento. Ora, quem acredita em certas verdades
científicas ou filosóficas como se elas fossem um porto seguro esconde, no
fundo, um medo básico não superado e uma angústia não resolvida. Melhor ainda,
faz delas um mito.”
Os educadores não podem se considerar como um “porto seguro”, mas como
uma ponte entre ele e o educando, onde haja a troca.
Na era em que vivemos não se pode falar em verdades absolutas, pois o
que num dado momento é “verdade”, porque se postula esta em senso comum, em
outro é comprovado cientificamente outra “verdade” que põe abaixo a anterior.
Reportando-nos para a antiguidade, quando não se aceitava como verdade, o Sol
como sendo o centro do Universo, hoje, esta é uma “verdade”, que futuramente
pode vir a ser questionada.
Atualmente fica claro que tudo são tão cíclico e mutável, que ao
concluirmos um curso de nível Universitário, já estamos obsoletos, pois novas
“verdades” e novos conhecimentos são gerados.
Levamos uma vida substancialmente incerta, na atualidade, onde
cotidianamente nos deparamos com as adversidades. Existe um grande índice de
estresse, depressão doenças psicossomáticas decorrentes desta. Isto acontece
porque introjetamos o mito de que somos um “porto seguro” em nossas produções
intelectuais e é muito doloroso quando descobrimos ou reconhecemos os limites
de nosso pensamento.
Portanto, enquanto profissionais da educação, necessitamos tentar a
promoção da resiliência, para que tenhamos flexibilidade para enfrentar estas
adversidades, analogicamente falando, como se fôssemos uma árvore que se
contorce com o vendaval, mas após a calmaria, tem a flexibilidade de
reestruturar-se, sem que haja fissuras.
O professor resiliente é capaz de promover a resiliência em seus
discentes, pois terá a sensibilidade de buscar descobrir e ressaltar, qual das
Múltiplas Inteligências, referenciadas por Gardner, que esse aluno possui,
fazendo-o sentir-se útil, utilizando desta habilidade para que seja criativo e
feliz.
Também, dever-se-ia utilizar a Pedagogia da Presença, ou Pedagogia
Afetiva, reportando-nos a Goleman, buscando trabalhar não somente os
conhecimentos científicos, mas elevando e referenciando as Inteligências
Emocionais, destes alunos, que por muitas vezes não possuem de fato alguma
deficiência cognitiva, mas sim algum bloqueio emocional. Se simplesmente os
excluirmos, considerando-os como incapazes, poderemos cometer o mesmo erro que
os professores de Verdi, autor da Ópera “La Traviata”, as escolas de sua época,
nunca o acolheram bem quando jovem, argumentando que lhe faltava mais
capacidade ou inventividade. Ele teve sua matrícula recusada inclusive por um
conservatório em Milão, bem como colecionou muitas outras rejeições. Ou como
Einstein, que chegou até a ser expulso de escolas, por ser considerado como
incompetente e anarquista; entre outros.
Segundo Edgar Morin (2000, p.32),
“Necessitamos civilizar nossas teorias, ou seja, desenvolver nova
geração de teorias abertas, racionais, críticas reflexivas, autocríticas, aptas
a se auto-reformar. (...)”.
(...) As possibilidades de erro e de ilusão são múltiplas e permanentes:
aquelas oriundas do exterior cultural e social inibem a autonomia da mente e
impedem a busca da verdade; aquelas vindas do interior, encerradas, às vezes,
no seio de nossos melhores meios de conhecimento, fazem com que as mentes se
equivoquem de si próprias e sobre si mesmas.”
Outro cuidado fundamental seria referente à representação social que
fazemos de nossos discentes, pois ao se generalizar em senso comum,
submetendo-os a parâmetros sociais, rotulando-os ou predestinando o seu futuro.
Certos de que vivemos de incertezas, não podemos antecipar o seu curso vital,
mas sim, esforçarmos no empreito de despertarmos o interesse, fomentando para
que sejam criativos e atuantes socialmente.
“O dever principal da educação é de armar cada um para o combate vital
para a lucidez”.(Morin, 2000, p.33).
Bibliografia
JAPIASSU, Hilton. A pedagogia da incerteza. In: A pedagogia da incerteza
e outros estudos. Rio de Janeiro: Imago, 1983, cap.1, p. 11-38.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. UNESCO:
Cortez, 2000, p. 19-61.
Fonte
das Imagens: Imagens Google
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