terça-feira, 2 de agosto de 2011

Uma Reflexão Sobre a Educação Profissional

Torna-se necessário repensar os desafios da relação educação-trabalho diante das exigências impostas pelos contornos econômicos da globalização econômico-financeira. Deste modo, na nova ordem mundial, de grandes transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, a formação profissional é considerada um elemento estratégico para o desenvolvimento do país.
Assim sendo, a educação profissional com foco no mercado de trabalho e com curta duração se torna uma aliada às preocupações do governo em relação à geração de emprego e renda, no momento em estimula o desenvolvimento da produtividade em toda a economia brasileira.
Por outro lado, o nível de desemprego representa uma ameaça ao equilíbrio socioeconômico nos diversos estados do país. O mercado exige qualificação constante para as novas exigências da economia, ao mesmo tempo este mesmo mercado é altamente seletivo, pois busca profissionais capacitados para o desenvolvimento das suas funções de forma eficiente, porém para um bom preparo profissional é necessária uma educação básica de qualidade e que desenvolva noções de ética e cidadania nos indivíduos, consequentemente, para a educação profissional é imprescindível uma boa formação geral.
No que se refere ao currículo, a legislação educacional prevê a atenção aos seguintes elementos: Currículos baseados em competências requeridas para o exercício profissional; Articulação e complementaridade da educação profissional de nível técnico com o ensino médio; Oferta de cursos sintonizada com as demandas do mercado, dos cidadãos e da sociedade; Diversificação e expansão da oferta, tanto de cursos técnicos e tecnológicos quanto de cursos de nível básico, que atendam à qualificação, requalificação e atualização do trabalhador; Vínculo permanente com o mundo do trabalho e a prática social; Currículos flexíveis, em módulos, possibilitando itinerários diversificados, acesso e saídas intermediárias e atualização permanente; Ensino contextualizado, que supere a dicotomia entre teoria e prática; A prática profissional constitui e organiza o desenvolvimento curricular.
Os professores, para atuarem na educação profissional para o ensino técnico, devem ter formação de nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena em universidades e institutos superiores de educação. Para o nível tecnológico a exigência é especialização, mestrado ou doutorado.
Na corrida de obstáculos entre a oferta e demanda de e por trabalhadores mais qualificados, a educação profissional desempenha papel central, pois além de ser de prazo mais curto, maior facilidade de conciliar trabalho e estudo, ela se volta mais diretamente às reais necessidades dos diferentes negócios.
Antes se dizia que a educação profissional seria uma complementação da educação básica, na verdade ela não é só isso, abre um leque de oportunidades profissionais para o mercado de trabalho para estas pessoas que buscam a educação profissional.,
A competitividade acelerada estabelece a busca frenética de inovações e de aperfeiçoamento que surgem dos escritórios de planejamento e envolvem todo o chão da empresa, passando a requisitar sugestões e opiniões do trabalhador mais diretamente ligado à produção. Para um mercado consumidor mais limitado, a produção deve ser mais controlada, incorporada a partir da demanda e condicionada ao gosto do cliente. Produção sem estoques, eliminação do refugo e do retrabalho com qualidade controlada durante toda a produção são objetivos perseguidos pelo novo padrão produtivo.
A empresa do futuro, presente no imaginário das pessoas, parece que vai se constituindo por um aglomerado de máquinas inteligentes, em que a intervenção humana seria mínima, bastante ascética, capaz de interligar produção e mercado distribuidor de forma ágil e com um menor custo. Essa empresa, muito diferente daquela caricaturada por Charles Chaplin em “Tempos Modernos”, eliminaria o trabalhado repetitivo, desinteressante, braçal e recorreria significativamente para o intelecto e o envolvimento do trabalhador.
Entre, a realidade e o sonho, as pesquisas comprovam que a empresa do futuro está longe de ser um processo generalizado para todo o mundo produtivo e que, mesmo em países mais desenvolvidos, esse padrão produtivo, altamente tecnologizado convive e às vezes estimula, com processos menos inovadores de produção, muitas vezes dentro da mesma empresa.
Segundo Perrenoud (1997) a educação profissional deve formar para o processo produtivo, e cada curso está referido a uma área específica da atividade laboral, a um processo de produção. A análise deste processo é o primeiro passo para a definição de como deve ser a construção das condições de preparação para o exercício de atividades neste processo.
O que se pode observar é que o mercado dita as regras e compete ao sistema educacional se adequar e suscitar soluções que contemple as necessidades de todos.
Para inserir novos profissionais no mercado, não basta apenas ensinar a fazer uma atividade laboral, necessita-se de formação continuada, buscando incentivar o estudante a formação critica, desenvolvendo suas, competências, habilidades e atitudes, relacionando o aprendizado ao trabalho, que dele será requerido no mercado.
Mesmo que títulos e diplomas tragam importância para a inserção profissional inicial, esses não garantem a permanência no mercado de trabalho. Tal permanência passa a depender das competências adquiridas e constantemente atualizadas, que proporcionam ao trabalhador a empregabilidade. A aquisição e a renovação de competências podem ocorrer por meio da educação profissional continuada ou pela diversificação das experiências profissionais.
Assim sendo, as diretrizes recomendam que os currículos sejam modulares, permitindo aos trabalhadores a construção de seus próprios itinerários de formação, da mesma forma, como prevêem mecanismos de avaliação, que possam certificar competências adquiridas pela experiência profissional. Neste último aspecto há uma inovação proporcionada pela noção de competência: o reconhecimento do saber prático tácito do trabalhador.
A noção de competência é abordada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais sempre de forma relacionada à autonomia do trabalhador contemporâneo ante a instabilidade do mundo do trabalho e das mudanças nas relações de produção. O agir competente, deste modo, realiza-se pela “capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos e habilidades necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho” (Brasil. CNE/CEB. Resolução no 4/99, art. 6o).
Imprime-se a leitura de que a expressão:
- “a capacidade de” tem conotações de intencionalidade consciente determinada pelo exercício profissional - “mobilizar, articular e colocar em ação (...) ”referem-se às operações do pensamento que podem viabilizar essa intencionalidade.
- Os “valores” são elementos culturais e pessoais, associados ao saber-ser e saber conviver, fortemente valorizado nas relações atuais de trabalho.
- Os “conhecimentos” são constituídos pelos saberes teóricos científicos e práticos, tanto aqueles transmitidos pela escola quanto os adquiridos pela experiência.
- As habilidades são o resultado das aprendizagens consolidadas na forma de habitus, ou o saber-fazer, também mobilizados na construção das competências profissionais.
Como consta em Brasil. MEC. RCN, 2000 a competência caracteriza-se, então, pela condição de alocar esses saberes, como recursos ou insumos, por meio de esquemas mentais adaptados e flexíveis, tais como análises, sínteses, inferências, generalizações, analogias, associações, transferências, entre outros, em ações próprias de um contexto profissional específico, gerando desempenhos eficazes.
O pensamento piagetiano a respeito do desenvolvimento cognitivo perpassa por toda a proposta das competências presente nos documentos oficiais. Pela teoria de Piaget, a construção do conhecimento ocorre mediante ações físicas ou mentais sobre objetos, resultando na construção de esquemas ou estruturas mentais que se modificam e se tornam cada vez mais refinados por processos sucessivos de assimilação e acomodação, desencadeados por situações desequilibradoras.
As competências constituem-se na articulação e mobilização dos saberes por esses esquemas mentais, ao passo que as habilidades permitem que as competências sejam colocadas em ação.
Partindo deste ponto de vista, a finalidade da prática pedagógica seria proporcionar o exercício contínuo e contextualizado dos processos de mobilização, articulação e aplicação dos saberes, por meio dos esquemas mentais, o que leva as Diretrizes Curriculares Nacionais e os Referenciais Diretrizes Curriculares Nacionais a recomendarem que o currículo se organize por conjuntos integrados e articulados de situações-meio, pedagogicamente concebidos e organizados para promover aprendizagens profissionais significativas.
Os conteúdos disciplinares deixariam de ser fim em si mesmos para se constituírem em insumos para o desenvolvimento de competências. Esses conteúdos são denominados como bases tecnológicas, agregando conceitos, princípios e processos.
O trabalho educacional deve se deslocar “do ensinar para o aprender”. Para isso, a metodologia adquire centralidade no processo ensino-aprendizagem, posto que elas devem identificar-se com as ações ou o processo de trabalho do sujeito que aprende. As situações-meio que constituem o currículo deve incorporar problemas e projetos desafiadores, reais ou simulados, que desencadeiem ações resolutivas, identificados com as situações características da área profissional.

A FGV desenvolveu uma pesquisa sobre Educação Profissional chamada “A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho” (publicada em 26/05/2010). A conclusão é que ter formação profissional aumenta em 48% as chances de um indivíduo ingressar no mercado de trabalho. Para saber mais acesse o link: FGV/MEC

A Rede Globo, também vem realizando uma série de reportagens sobre Cursos Técnicos. Assista aos vídeos abaixo. (Fonte: Youtube).




Referenciais Bibliográficos

Perrenoud, Ph. (1999). Pedagogia Diferenciada. Das Intenções à Ação. Porto Alegre: Artmed Editora (trad. en portugais de Pédagogie différenciée : des intentions à l'action. Paris : ESF, 1997)
BRASIL. MEC. Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília: MEC, 2000.
DEFFUNE, Deisi; DEPRESBITERIS, Léa. Competências, habilidades e currículos da educação profissional: crônicas e reflexões. São Paulo: SENAC São Paulo, 2000.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

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